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quarta-feira, abril 06, 2005 
 
Arroz com pêssego (ou 'feijão com uva')
Um dos maiores limitadores da mente humana é a auto-segregação. A formação de guetos, tanto por maiorias quanto por minorias, é estagnante e cansativa. Todos, naturalmente, procuram se aproximar de seus iguais e, naturalmente, se tornam cada vez mais iguais. Eu, por exemplo, só consigo sair com meus cinco melhores amigos, para lugares que toquem somente música eletrônica e que fiquem na Zona Sul. Lá estou eu então sempre com meus cinco melhores amigos, em algum lugar que toque música eletrônica e que fique na Zona Sul. Um saco ser limitado. Não queria ser. Tento não ser. Mas sou. Daí uma das coisas que mais gosto no trabalho ser justamente uma das coisas que menos gosto no trabalho: ser obrigado a conviver diariamente com pessoas que, por vontade própria, eu jamais conviveria. Como num Big Brother, só que ao invés dos carros e do prêmio de um milhão de reais, todo mundo está disputando alguns salários mínimos e uma cartela de vale-transporte no final do mês. Se não gosto porque é um porre ter que sentar à mesa para almoçar com aquele que não consigo nem cruzar o olhar, é bem interessante perceber que a pessoa com quem me dou melhor é um playboyzinho preconceituoso que só usa camisa pólo e gel no cabelo, mora num condomínio fechado na Barra da Tijuca e se amarra na Nuth. E, apesar de tudo isso, é muito gente boa - algo que eu jamais descobriria me mantendo junto unicamente dos meus semelhantes. Até porque mais divertido do que viver somente no conforto do seu próprio mundo e do mundo daqueles que te cercam, é poder se sentir incomodado vivendo todos os mundos que existem. Nem que seja temporariamente. Nem que seja uma única vez.