sequissudoxtequinina - sedotec em pastilhas - versão 13b
sexta-feira, agosto 25, 2006
Little Computer People living in a digital world Almoço todos os dias no mesmo restaurante de comida orgânica. Dou sempre o mesmo 'tudo bem?' seguido do mesmo 'obrigado' para a caixa. Depois paro na loja de doces mineiros à direita do restaurante e não preciso pedir nada. Na verdade não solto nem 'tudo bem?'. Assim que a atendente me vê - pode estar conversando, ao telefone, o que for - pega um guardanapo e já fica segurando um canudinho de doce de leite até que minha mão o alcance. Aí sim solto um 'obrigado' depois de receber o troco e ela continua muda me olhando como se dissesse 'até amanhã'. E aí me dei conta que detesto rotina. Detesto. E no entanto sou um de seus maiores criadores na Terra. Sempre sento no mesmo lugar no ônibus - última janela do lado esquerdo. Coloco os fones para ouvir música com o Winamp no modo aleatório. Mas toda vez que é escolhida uma música fora do que quero ouvir, pulo para seguinte e para a seguinte e para a seguinte até 'por acaso' ser uma das que quero ouvir. Até meu organismo já está habituado à rotina, tanto que não consigo dormir se não respeitá-la rigorosamente: deitar de bruços com a cabeça virada para o lado esquerdo e o travesseiro de abraçar para o mesmo lado. Assim permanecer até chegar no estado 'meio lá, meio cá' e aí mudar a posição da cabeça e o travesseiro de abraçar para o lado direito. Aí sim durmo. Se continuar com a cabeça para o lado esquerdo, passo a noite inteira no estado 'meio lá, meio cá' mas não durmo profundamente. Se deitar direto com a cabeça para o lado direito não consigo atingir o estado 'meio lá, meio cá' e fico acordado. E assim sigo com a rotina: sexo com quem mal sei o primeiro nome e até minto sobre o meu, tomar Ades de Maracujá, esperar por alguém que nunca vai vir, esperar. Então está decidido: minha rotina agora vai ser não ter rotina. Clichê eu sei mas, talvez por isso, acreditando piamente. Sentar no meio do ônibus. Na frente. E do lado esquerdo. Comer no KFC. Ou no pé sujo da Gago Coutinho onde a feijoada tem pedaços de porco ainda com pêlo. Passar direto pela loja. Tomar Ades de Goiaba. Ficar 3 dias sem tocar punheta. Ouvir músicas que nem sabia que tinha no meu HD. Procurar apartamento. Fazer Krav Magá com meus amigos. Aceitar convite para ir em rave de trance no sábado de alguém que, logo após o primeiro encontro, já me liga todo santo dia dizendo que está com saudades. Por enquanto estou deixando - ainda não virou rotina.