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segunda-feira, dezembro 11, 2006
Dourada Eu fiz alguns anos de análise. Se serviram para alguma coisa? Definitivamente. Se vivo melhor depois deles? Quase certo que não. Isso porque ganhei uma espécie de super-poder: a capacidade de enxergar as várias camadas do mundo e das pessoas com absoluta clareza e uma auto-avaliação completamente fora do comum. Nada passa despercebido. Nada. Nenhum escapismo, ato falho ou qualquer mecanismo que o cérebro tenha utilizado para mascarar a realidade e assim tornar a vida mais, digamos, suportável. A minha e a de qualquer um ao meu redor. Nada passa despercebido. Todo mundo de vez em quando pára para pensar na vida. Normal. Mas viver sem descanso como se tivesse quatro analistas 24 horas por dia dentro de sua mente - um lacaniano, outro freudiano, um junguiano e um barman - é algo completamente devastador. É a visão de raio-x acorrentada à kryptonita. Caminhando sozinho até o restaurante de comida natural: nunca fui co-protagonista na vida de absolutamente ninguém. Olhando as pessoas nos pontos de ônibus com a cabeça encostada na quina da janela aberta: gosto de repetir erros de uma forma quase que patológica. Tirando o xampu com os olhos fechados debaixo da água bem quente: me vingo de todos sem o menor ressentimento para compensar tudo que alguns poucos me fizeram. Deitando na cama e esperando os olhos começarem a ficar pesados: será que devo prosseguir, mudar completamente o caminho ou simplesmente sentar à beira da estrada e esperar o último ônibus passar? Tudo vem sem resposta. Mas tudo vem. Sempre. Completamente devastador - eu disse.