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quinta-feira, outubro 18, 2007 
 
Diário de bordo (que vai crescendo conforme eu vou lembrando)
Impressionante a quantidade de farmácias no Nordeste. E impressionante que todas elas sempre têm filas enormes a qualquer hora do dia. E impressionante também como todo o comércio de rua fecha mas os salões de beleza dos mais furrecos até os mais luxuosos ficam abertos até muito tarde. Todo mundo só bebe Nova Schin por lá e quando eu, como bom carioca, pedia uma Skol, recebia olhares de reprovação como se estivesse bebendo mijo. O povo é em geral bem mal-educado. Não é mal-educado de não saber qual é o talher de peixe ou como andar de maneira ereta sem derrubar o livro da cabeça. É mal educado de não usar 'por favor', 'obrigado' e 'com licença' mesmo. E olha que para um carioca reparar nisso é porque o negócio é punk mesmo. É ótimo passar horas e horas sem falar uma palavra e contar nos dedos as que você falou durante todo o dia. A máquina quebrou no terceiro dia de viagem. Resultado: 3 fotos em Recife e nenhuma em Fortaleza. Mas várias dos Lençóis Maranhenses com a máquina do irmão. Nordestinos com dinheiro (e quando eles têm, têm mesmo) adoram ostentar. Até mais do que os paulistas. Seja com o carro que dirigem, nos prédios onde moram ou nas roupas que vestem. Como se fizessem questão de deixar claro algo como "sou paraíba mas tenho mais dinheiro do que vocês do 'sul', tá?". Tá, né. As pessoas esbarram em você (nada de roçada de putaria, tipo mão em mão segurando na barra do ônibus ou ombro com ombro em fila) e ao invés de se desculparem e chegarem para o lado, continuam lá encostando como se fosse normal desconhecidos terem contato de pele. Achei isso estranho. É engraçado comprar um côco por 1 real, uma lata de cerveja num quiosque do calçadão a 1,50 e comer bem por 5 reais. Mas muito mais engraçado é ser comum ambulante vendendo algodão doce e ovo de codorna na praia. Sorvete de tapioca é bom pra caralho. Agora de bacuri e cupuaçu a rima já está até pronta. Coloca Vick Vaporub no freezer e o gosto é o mesmo. O trânsito é maluco, terra de Marlboro mesmo, cada um faz o que quer e pronto. E olha que para um carioca reparar nisso é porque o negócio é punk mesmo. É impressionante a disposição dos cidadãos de Recife para a putaria e para o bissexualismo (que não deixa de ser um sinônimo de putaria) em qualquer lugar e a qualquer hora do dia e da noite, algo com o qual me identifiquei bastante. Olhou duas vezes, na terceira já é pra fuder. E olha que para um carioca reparar nisso é porque o negócio é punk mesmo. Se você pedir um ovo cozido em São Luís, pode ter certeza que vão colocar coentro. Coentro em tudo. A desocupação desordenada (tipo 'dei dinheiro, construo o que quero') da Praia de Boa Viagem em Recife faz com que arranha-céus de tamanho e luxo impressionantes sejam erguidos e façam sombra em alguns trechos em toda a faixa de areia até o mar já a partir de 1 da tarde. Muito escroto isso. Em São Luís existe uma praia onde os carros estacionam por toda a faixa de areia e parece existir uma disputa velada de quem tem o som mais potente, cada um tocando uma música. Enlouquecedor seria a palavra exata. A quantidade de travestis no aeroporto de Fortaleza era espantosa. Espantosa também a quantidade de gringo babão e asqueroso que vai para lá só para fuder. E olha que para um carioca reparar nisso é porque o negócio é punk mesmo. Presenciei um assalto com direito a disparo de dois tiros na minha primeira hora em Recife. O garçom disse que era para o carioca se sentir em casa (som de duas batidas no surdo e a final no prato). Existe um refrigerante no Maranhão que faz tanto mas tanto sucesso que a Coca-Cola até comprou a fábrica e limita a distribuição só para dentro daquele estado. Dizem que é guaraná (dizem), sua cor é rosa pink e seu nome é Jesus. Por que? Fácil de explicar. A primeira coisa que você pensa quando bebe é "Jesus, que negócio horrível é esse?". Saber como eles lá gostam tanto, só quando a estrutura do DNA maranhense for desvendada. Se eu tivesse passado só 2 dias em Fortaleza diria que as crianças têm verdadeiro pavor de água e que as pessoas são em geral muito feias. Afirmação reforçada pelo fato de que eu poderia ter pago toda minha viagem - inclusive com Euros - fazendo programas por lá tamanha era a quantidade de ofertas (uma inclusive com um diálogo - melhor monólogo - que até hoje me causa náuseas). Mas passei cinco dias e o último foi no Beach Park, parque aquático construído numa das praias mais bonitas que já vi na vida e onde deixei parte das minhas costas em uma das mais de 20 vezes que fui no Kalafrio. Então posso dizer que não existe só gente feia lá não e que nunca vi tanto rabo gostoso na minha vida. Mas a falta generalizada de pêlos e os músculos naturalmente torneados por trabalho braçal fazem de Recife meu atual paraíso na Terra. O maranhense fala com um n a mais no nh. Tipo 'Marannhão'. Ainda não consegui parar de imitar. Muita gente em Fortaleza fala de verdade igual aquela humorista gorda Rossicléia. Juro que me espantei. Não sei como vou conseguir continuar indo a praia sem ter ninguém passando e vendendo caldeirada. Agora caldinho pode enfiar no cu, porra. Campo? Museus? Montanha? Porra nenhuma, quero é praia para sempre. Saldo final: Nordeste é foda e vou voltar toda vez que puder.
Adendo esquecido (antes tivesse sido de fato esquecido): sem fazer idéia de onde eu estava e muito menos sem que eu tivesse a menor noção de onde ele se encontrava, dei de cara com meu chefe judeu no quarto andar da escada que só tem espaço para uma pessoa passar (sendo que ele estava descendo e eu subindo) de um dos brinquedos do Beach Park. Agora, pensa comigo: estar a 2805 quilômetros de distância da sua cidade e encontrar por acaso alguém que você encontra todo santo dia da sua vida e por escolha própria jamais encontraria, é digno de receber um 14° salário, não? Podiam estar os dois em Fortaleza sem saber. Já seria uma grande coincidência. Podiam estar os dois no Beach Park e não se esbarrarem. Muita coincidência. Podia qualquer coisa. Menos os dois estarem na mesma cidade, no mesmo parque, no mesmo brinquedo, na mesma fila, no mesmo dia, na mesma hora, no mesmo minuto, no mesmo segundo. Triste coincidência.